Há cerca de 20 anos, a integração lavoura-pecuária-florestal (ILPF) não era vista com muita simpatia pela cadeia de papel e celulose, porque entedia-se como despesa e não aproveitamento de área.

Atualmente, a indústria se desenvolveu, o mercado se atualizou e agora a compreensão sobre ILPF extrapola o conceito de sustentabilidade e sequestro de carbono e se torna um caminho estratégico para ampliar a base florestal.

Seguindo este movimento, a Suzano passa a integrar a Rede ILPF representando o setor florestal na associação. Já são parte do consórcio Embrapa, Bradesco, Cocamar, John Deere, Soesp e Syngenta.

Segundo o diretor de Operações Florestais da companhia, Fabian Bruzon, o ingresso na Rede objetiva ampliar a interlocução com o agro, dividindo experiências e oportunidades de novos negócios, além de trazer ganhos de visibilidade nas pautas de sustentabilidade e combate à crise climática.

“A Suzano entende que sua operação traz uma importante contribuição à pauta ESG e tem sua atuação focada nos Compromissos para Renovar a Vida, um conjunto de 15 metas de longo prazo alinhadas com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, da ONU, e focadas em nossa contribuição às pessoas e ao planeta”, afirma Bruzon, em entrevista à Globo Rural.

Informação

Para ampliar a presença das árvores em sistemas integrados, a empresa pretende trabalhar com a disseminação de informações técnicas acerca dos benefícios sociais, ambientais e econômicos do componente florestal , utilizando feiras, dias de campo, palestras e caravanas.

“Lembro, por exemplo, que para os produtores, o componente florestal pode resultar em incremento de renda, além de benefícios como conservação do solo, bem-estar animal decorrente do conforto térmico e neutralização da emissão de gases do efeito estufa “, argumenta Bruzon.

De acordo com o executivo, a entrada na Rede ILPF também sustenta a perspectiva de incremento da base florestal nas regiões de atuação da Suzano.

“A ampliação da base florestal é essencial para podermos assegurar a oferta de matéria-prima destinada ao desenvolvimento de alternativas renováveis para a substituição do plástico, dos derivados de petróleo e de outros produtos químicos, contribuindo para a evolução da bioeconomia e da indústria de baixo carbono “, acrescenta.

Metas da ILPF

A estimativa da Rede ILPF é de que os sistemas integrados estejam presentes em 17,4 milhões de hectares nos diferentes biomas do país . De 2015/2016 até 2020/2021, houve um aumento estimado de 52% de áreas com integração. O propósito é expandir a tecnologia para 35 milhões de hectares até 2030.

Parte desta meta passa por ganhar escala no componente florestal, já que a maioria dos mosaicos produtivos ainda prioriza a lavoura-pecuária e apenas 15% dos sistemas integrados contam com a presença de árvores.

Para Isabel Ferreira, diretora executiva da Rede ILPF, esta é uma oportunidade de potencializar iniciativas que já existam na Suzano com o apoio das outras empresas associadas.

“Buscamos cada vez mais ampliar a adoção dos sistemas ILPF com a presença de árvores, pois sabemos da importância deste componente para diversificar a produção, sequestrar carbono e promover sombra e bem-estar animal”, salienta.

Melhoramento genético

O sequenciamento de um novo genoma de eucalipto passa a ficar disponível para a comunidade científica e setores público e privado a fim de acelerar as pesquisas na silvicultura.

Com o objetivo de desenvolver o cultivo de árvores mais resilientes, a disponibilização gratuita do genoma é anunciada pela Suzano, por meio da sua divisão de biotecnologia FuturaGene, em parceria com a Corteva.

Segundo a Suzano, o lançamento do genoma busca a identificação e seleção de características que garantam árvores mais saudáveis que contribuirão para a produção sustentável de madeira.

Na prática, pesquisadores terão uma plataforma de informações para entender o funcionamento dos genes do eucalipto e, com isso, avançar na biotecnologia e no melhoramento convencional com mais precisão e velocidade.

“O desenvolvimento de cultivares de eucalipto mais tolerantes à seca, pragas e doenças ganha com isso uma ferramenta, anteriormente disponível apenas para as principais culturas agrícolas”, esclarece Eduardo José de Mello, vice-presidente de Operações Brasil e Melhoramento Florestal Global da Suzano.

A FuturaGene disponibilizou a cultivar de eucalipto utilizada no sequenciamento e a Corteva participou com a tecnologia de sequenciamento e montagem do genoma.

“Essa sequência aprimorada será uma ferramenta essencial para o aumento dos esforços em melhoramento molecular do eucalipto. Com o aumento da demanda por madeira e produtos derivados desta matéria-prima, esse conjunto de dados contribuirá para melhorar o entendimento da comunidade científica sobre o eucalipto, garantindo, assim, maior resiliência das árvores e garantindo que o cultivo seja feito de maneira eficiente, efetiva e sustentável”, diz Glenn Brooke, gerente sênior de Relacionamento Estratégico da Corteva Agriscience.

Pesquisa

A Suzano já havia doado, em 2014, o clone BRASUZ1 de Eucalyptus grandis , para ser utilizado como base para o projeto público. Clones híbridos de E. grandis e E. urophylla foram utilizados para o sequenciamento, realizado entre a FuturaGene e a equipe de genômica de plantas da Corteva Agriscience.

Esse mesmo clone, em conjunto com seu respectivo protocolo de transformação, já havia sido disponibilizado para a Cooperativa Great Trees, da Universidade do Estado de Oregon, nos Estados Unidos.

Também em 2014, o primeiro projeto de sequenciamento completo do genoma do eucalipto, coliderado pelo Brasil, foi publicado na revista britânica Nature, importante título no mundo em divulgação científica.

De acordo com a Embrapa, a decodificação da sequência completa do genoma resultou na identificação de 36 mil genes da árvore, quase o dobro dos genes encontrados no genoma humano.

 

(FONTE: Globo Rural – 04/02/2023)