Artigo – Wilson Andrade* (abril 2019)

Concluímos o ano de 2018 com novidades que devem trazer resultados importantes já neste ano, como o lançamento do Plano Nacional de Florestas Plantadas (PlantarFlorestas) pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Estamos otimistas com as ações previstas para os próximos dez anos que inclui o objetivo de aumentar em 2 milhões de hectares a área de cultivos comerciais em áreas antropizadas, dentre elas pastagens e áreas sem vocação agrícola, mas boas para plantios florestais.

Com isso, esses novos plantios florestais contribuirão ainda mais para a mitigação de mudanças climáticas. Se bem planejados e implantados, como o plano prevê, esses 2 milhões de hectares podem ainda prover outros serviços ecossistêmicos interessantes, com conservação de solos e água. Tudo isso de acordo com as diretrizes de sustentabilidade que o setor florestal já trabalha.

Detentor de 700 mil hectares plantados principalmente com eucalipto, a Bahia está entre os líderes do ranking de área florestal plantada. No total, porém, entre estas áreas de produção e de remanescentes nativos, a Bahia possui 730,5 mil hectares de florestas certificadas de forma voluntária pelas empresas através do sistema FSC®. Outra certificação presente no Estado é o CERFLOR. Estima-se que entre 500 mil hectares com ecossistemas florestais nativos no estado são destinados à proteção e preservação ambiental. Deste total, as empresas associadas da ABAF contribuem com aproximadamente 380 mil hectares, o que representa cerca de 88% do total. Em resumo, o setor tem 0,7 hectare preservado para cada hectare de produção, portanto bem acima do exigido pelo Código Florestal brasileiro.

Devemos ainda considerar o compromisso brasileiro, nos acordos mundiais de combate às mudanças climáticas, de plantio ou replantio de 12 milhões de hectares de florestas e mais 5 milhões de hectares no modelo Integração Lavoura, Pecuária e Floresta (iLPF). Sem dúvida, pela competitividade dos plantios baianos (em determinadas regiões a produtividade ultrapassa 45 m³/ha/ano, com casca, acima da média nacional), baseada nas condições edafoclimáticas e na avançada tecnologia aplicada por nossos produtores e empresas, boa parcela desses compromissos brasileiros podem resultar no aumento dos plantios locais. Para isso, estamos dialogando com a iniciativa privada, agentes governamentais e sociedade civil para que não percamos essa oportunidade.

Além disso, a área com florestas plantadas no Brasil ocupa apenas 1% da área do país, mas é responsável por 91% de toda a madeira produzida para fins industriais. Atualmente, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a área cultivada chega a 10 milhões de hectares, principalmente com eucalipto, pinus e acácias.

O segmento tem grande participação na balança comercial brasileira, sendo que no ano passado, as exportações só ficaram atrás do complexo soja, carnes e setor sucroalcooleiro. Isto também se repete na Bahia. De acordo com a Federação das Indústrias da Bahia (FIEB), o setor de base florestal continua disputando a liderança entre os maiores exportadores do estado e é o que mais contribui com o saldo da balança comercial, pois exporta muito e importa pouco. Em 2017, por exemplo, ficou tem terceiro lugar, com vendas externas na ordem de US$ 1,27 bilhão e com um índice de 15,7% do total exportado pela Bahia (em 2015 e em 2016 ocupou o primeiro lugar).

Tudo isso também se dá porque o setor de base florestal tem alavancagem de diversos outros segmentos que demandam madeira nos seus processos produtivos, a exemplo da construção civil, da indústria de papel e celulose, a metalúrgica, energia de biomassa, a secagem de grãos do agronegócio, madeira e móveis, entre outros. Isso faz com que, mesmo com a redução de economia nacional (e do estado), em 2015 e 2016, o setor de base florestal continuou crescendo em referência a empregos, exportações e investimentos. Além disso, o setor investe em quatro regiões distintas da Bahia e isso contribui para a desconcentração da atividade econômica no estado (as plantações florestais na Bahia estão localizadas no Sul, Sudoeste, Litoral Norte e Oeste).

Existem perspectivas, na Bahia, de novos investimentos em florestas plantadas para os principais segmentos da cadeia produtiva atuantes na região. Pacificada a questão dos investimentos internacionais no setor, estima-se a possibilidade de investimentos no setor florestal brasileiro na ordem de R$ 50 bilhões nos próximos cinco anos, de acordo com a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá). E a Bahia, líder mundial em produtividade de eucalipto, pode trabalhar para assegurar boa parte desses investimentos.

*Empresário e economista com vasta experiência nas áreas de fusões e aquisições empresariais, relações internacionais e comércio exterior, indústria e agronegócio, Wilson Andrade tem presidido várias entidades setoriais no Brasil e exterior. Desde 2011 tem se dedicado também ao setor florestal, na diretoria da Associação Baiana das Empresas de Base Florestal (ABAF), a qual participa de mais de 40 diferentes fóruns estaduais e nacionais, onde ocorre uma constante troca de informações e experiências que contribuem para a formulação de políticas públicas e privadas para o desenvolvimento contínuo e sustentável das atividades florestais.