Demanda de madeira para uso múltiplo

Por Wilson Andrade* (15/04/16)

De acordo com os dados da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), a projeção para até 2020, no Brasil, é de termos a duplicação dos atuais 7 milhões de hectares de florestas plantadas, com projetos de investimentos de R$ 53 bilhões. Tudo para que o Brasil, que tem toda a competitividade mundial na área florestal, possa superar a sua pequena participação no mercado internacional.

Capa anuário_Paulo Cardoso
9 de Outubro de 2024

E o porquê disso? Para auxiliar nesta resposta, vamos pegar o exemplo da Bahia que, com seus 671 mil hectares, ocupa o quinto lugar no ranking de principais estados produtores de florestas no Brasil, representando 8,7% da área plantada total do país. Esse total corresponde a apenas 1,2% do território baiano – com destaque para o Sul, Sudoeste, Oeste e Litoral Norte.

Estes números poderiam ser muito mais expressivos, pois a Bahia se destaca em dois aspectos na área florestal. Primeiramente a Bahia – com suas condições edafoclimáticas e pela tecnologia embarcada – tem recorde mundial em produtividade do eucalipto. A Austrália, que é de onde nós trouxemos o eucalipto, tem uma produção de 23 m³/ha/ano. Na Bahia este número é de 42. Já em algumas regiões mais adequadas este número chega a 60.

Por outro lado, a nível de Brasil, há um engano em imaginar-se de que a grande maioria dos investimentos está hoje configurada pela celulose e papel, mas que são apenas 1/3 do potencial existente. Os outros 2/3 das florestas plantadas se destinam: metade para geração de energia e processamento de minérios, e a outra metade para produtos para uso múltiplo, principalmente peças e partes de madeira para construção civil em geral, como tábuas, portas, móveis, pisos e MDF (madeira aglomerada) etc.

Na Bahia – apesar de sua vantagem competitiva -, no setor de madeira para utilização da construção civil, ainda importa, dos estados do Sul, 90% da sua demanda. É nessas quatro áreas de base florestal, ou seja, que utilizam florestas plantadas como insumos (papel e celulose; mineração; energia e construção civil), que temos um potencial de investimento para alavancar a economia baiana de forma sustentável nos próximos anos.

A demanda por produtos de madeira cresce a cada dia nos quatro polos de produção de eucalipto da Bahia – Sul, Oeste, Sudoeste e Litoral Norte – o que se configura uma boa oportunidade de negócio, principalmente se considerarmos que o Estado oferece um pacote de incentivos, além de a Bahia ser campeã mundial em produtividade de eucalipto. Além de atrair empresas do setor madeireiro para atender a demanda local, pretendemos contribuir para criar e divulgar uma série de incentivos e oportunidades para que a Bahia possa ajudar a desenvolver as já existentes no setor madeireiro.

Acreditando nessa tendência positiva, a Associação Baiana das Empresas de Base Florestal (ABAF), em parceria com uma série de entidades ligadas à agricultura, indústria e à qualificação de mão de obra, vem trabalhando com um programa pioneiro, o Programa Mais Árvores Bahia que tem por objetivo a inclusão dos pequenos e médios produtores e processadores de madeira para uso múltiplo, visando o atendimento da demanda por móveis, peças e partes de madeira na Bahia – hoje atendida, na sua maior parte, por outros estados brasileiros. O programa atua em duas vertentes: o Projeto Produção que cuida da oferta por parte dos pequenos e médios produtores de madeira especificamente produzida para uso múltiplo. O Projeto Indústria pretende atrair empresas âncoras da área de serraria e, do outro lado, possibilitar o crescimento de 40 pequenas e médias empresas de serrarias (10 em cada polo do Estado). Ações serão também desenvolvidas junto às entidades o setor de consumo, como o Sindicato da Indústria da Construção do Estado da Bahia (Sinduscon-BA)  e a Associação dos Comerciantes de Material de Construção da Bahia (Acomac-BA), conscientizando-os das vantagens do eucalipto que pode substituir madeiras naturais cada vez mais escassas, com condições iguais de qualidade, estética, durabilidade, maneabilidade e custos bem mais competitivos.

* Diretor Executivo da ABAF. Contador, Economista e Professor de Economia Internacional com cursos de extensão no País e no exterior.


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